sábado, fevereiro 27, 2016

Hoje fez três meses que o meu pai se foi para o nunca mais... Saudade imensa dele. Desde que ele nos deixou, comecei, em Chicago, a escrever poemas para uma nova antologia, que dei o título provisório de "Meu pai, poemas de Chicago e outros". Posto dois poemas dela aqui. Aguardo comentários.
Amanhã, domingo, vai ter pamonhada aqui na minha mãe! Feliz domingo para todos!

MEU PAI
Ésio macedo Ribeiro

III

Hoje ela lavou as últimas peças de roupas que
O marido usou antes
De ir-se para o nunca mais
Lavou-as como as lavou sempre
Pôs nelas aquele amor que se põe
Naquilo que cobre o que se ama
Tirou o sujo, o suor, o sal
Pôs amaciante para manter-lhes as fibras
Amanhã irá passá-las
Dobrá-las
Guardá-las
E esperar o sábado o domingo
A segunda-feira
A terça-feira
A quarta-feira
A quinta-feira
A sexta-feira
Outro sábado
Mais um domingo
Até que o esperar se torne
O esperado

E quando isto se der
Haverá outro alguém
Para dar continuidade
À lavagem das roupas
Ao esperar
O sábado
O domingo...

Chicago, 02 dez. 2015.




XI

Está muito bem!
Não sente mais dores
Próstata em dia
O tumor sumiu
Deixou de tomar o remédio para pressão
Nem a dor de cabeça ou
A de estômago dão mais o ar da graça
Quando as tinha, corria para
O litro de Cura Tudo
Comprado na feira de domingo
E tudo melhorava rapidinho
Não precisa mais

Parou de pintar os cabelos
Bigode e sobrancelhas
Perdeu a vaidade?
Não! Mas viu que não precisa mais dela
Banho também não toma mais
Ah, e o trabalho de cortar as unhas a canivete
Aposentou unhas e canivete

Tudo ficou mais fácil
Não tem que comprar pagar negociar vender
Viajar cumprimentar – principalmente a quem não gostava –
Abraçar visitar chorar sorrir dirigir
– Todos os sábados aqueles mais de 100 km –
Tirar leite dar alimento aos passarinhos

Só não deixou de pescar
Ah, isto não podia
Está lá naquela beira de rio Culuene
Cumprindo outra temporada de pesca
Mas como não precisa também de comer
Pega os peixes e solta
Tudo é sem apegos de qualquer ordem

De vez em quando ele vai aos sonhos
Dos que amou
De uns dificulta a noite, malandro como ele só
No gosto pelo mal-feito
De outros envolve em fios de luz e amor
E quando sente que a história não ficaria completa
Sem ele
Dá o ar da graça
Há os que sentem e os que não sentem
É vento forte relâmpago chuva boa envernada

Agora não sentimos mais as dores das dores das dores
Dele, o homem que nós amamos

Chicago, 7 fev. 2016

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Chicago, 17 de fevereiro de 2016.


Anos se passaram... Novamente tinha me esquecido como voltar a postar aqui. Acho que agora vai.