
Primeiro, a anestesia não pegava - por ele ser alcoólatra -, assim, teve de ser anestesiado por três vezes para se fazer desacordado. Depois, pelo mesmo motivo do alcoolismo, as batidas não voltavam ao normal. Tiveram que executar o procedimento da cardio-versão por quatro vezes.
O médico dele me disse que estava até pensando em desistir quando viu a terceira tentativa falhar. Mas uma luzinha - imagino eu - deve ter se acendido nele, médico, para que tentasse uma vez mais para dar certo. Desta vez, meu amigo estava - se é que se pode dizer isto de um cardíaco -, novinho em folha, recebendo alta no fim do dia.
Durante o tempo em que eu o aguardava na sala de espera, como não sou dado a ficar calado, danei a conversar com os pacientes e parentes destes para saber porque estavam ali. (Eu sabia que todos estavam ali por problemas de coração, já que o hospital só trata deste "indivíduo" vital para que a vida seja e esteja.) Tirando destas conversas a conclusão de que muitos estavam ali, assim como o meu amigo, por não se cuidarem, por acharem que a vida é eterna ou sei-lá-o-quê. E não se cuidam, também, porque creem que nada de ruim vai acontecer às suas saúdes, imaginam-se a si mesmos como uns touros. No fim, vão para o hospital, se tratam, e voltam para casa para fazerem as mesmas coisas que os levaram para aquele lugar nada agradável.
Hoje em dia, com a vida que levamos nas cidades - principalmente nas grandes, onde impera o desconforto -, a coisa tende a acontecer cada vez mais cedo, a exemplo de um primo meu que sofreu um infarto aos 42 anos e teve que receber três pontes de safena e duas mamárias. Está vivo, mas será que ele não voltou ao mesmo ritmo de vida que levava?
Meu amigo, ontem, depois do dia exaustivo, chegou em casa e foi logo pegando o copo de cachaça. Ao ver isto, me veio imediatamente o questionamento: será que terá valido a pena eu ter torcido o dia inteiro e antes e depois para o reestabelecimento dele?
Sem comentários:
Enviar um comentário