sábado, abril 25, 2009

Não sei para quem eu escrevo aqui.

Nada importa se ele e ela só querem ficar 30 segundos na tela de algum canal de TV - que também não importa - ou de alguma qualquer mídia. A instanteneidade. Chegamos a ela. Tudo é rápido, megabytes-gigabytes, bandas largas. Vidas em ondas-curtas. Como a minha, cansada de dar cabeçadas em morros íngremes.

Não escrevo para ninguém e nem para mim mesmo, é que a mente pede para eu desobstrui-la, para soltar estes demônios que tomam conta dela todas as madrugadas dos últimos tempos. É uma coisa bem esquisita que vem e me toma de jeito. Quando isto acontece eu detono a geladeira e ouço todos os discos de todas as mulheres que vêm cantar para mim, todas estas mulheres Isaurinha Garcia, Nana Caymmi, Araci de Almeida, Cesária Évora, Maysa, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia, Ute Lemper, Gal Costa, Edith Piaf, Marianne Faithfull... e assim, elas vão desejando-me dias e dias e dias. Na velocidade que eu perdi.

Não é melancólica esta fala de agora, mas também não é sadia, não pode ser sadia, tem verme corroendo-na. Tem porta fechada. Tem beijo mais não. Por isso, ser desconexo e ir dizendo.

Não entendi que a viagem precisava terminar, ninguém avisou que havia apenas passagem de ida. Mas qual é mesmo a data, que dia que hora que mês que ano? E se eu não quiser esperar? E se eu não aceitar a hora determinada, será que irei preso? Cela comum ou especial?

Os olhos turvos por ter visto a dois filmes de uma só vez. O primeiro, "Antes de ir", com Jack Nicholson e Morgan Freeman. Depois, "Meu nome não é Johnny", com Selton Mello. Não dá para sair ileso de certos filmes que vão passando para nossas vidas. Tem gente que se suicida.

Eu vi uma vez um suicídio. Fiquei chocado, cruzei para a outra calçada, muita gente parando para ver, eu não quis ver, fiquei só com o estrondo do corpo batendo na calçada, aquele som repetindo em minha cabeça como disco furado. Era de tarde, sol quente, eu tinha coisas para fazer, sabe, hora marcada com alguém, fiquei frio, fui, mas estava um amargor minha boca, meu estômago. Ver a morte de perto não é para qualquer um. Tem que fazer curso, não dá para ir chegando e dizendo que sabe, que a gente não sabe nada.


Também o amor mata. Estes amores que vêm e vão em hora imprópria, eles não nos designam sanidade, pelo contrário, a gente vai ficando versado em rígido, em rocha. A gente não se contenta de jeito nenhum com estes amores que cometem em nossas vidas atrocidades, malefícios. E não podemos sequer prender os assassinos, por não termos o mandato de prisão, somos apenas vítimas. E vítimas tontas, perdidas em alarmantes catástrofes de uma vez ou outra na vida. O melhor mesmo, já me convenci, é ir comprando só "casca", deixando o interior para os vermes. Fiquemos, pois, com o verniz, com a cobertura, com a capa, com o vidro, com a fachada; com a pele. O preço é de ocasião, pode-se até regatear, pois o negócio anda difícil. A CRISE! Não temos tido dias fáceis! - dizem eles.


- Ei, boy, quem te deixou esta cicatriz no rosto, quem assanhou seus cabelos, quem amarrotou sua roupa que está suja, quem deixou escorrer esta lágrima?


E, assim, na noite vasta, André pega a estrada. Vai acenando até seu vulto desaparecer na vastidão escura. Lá longe, pode existir uma clareira e um clarão no céu
, lembro-me de ele ter dito minutos antes de me dar o último abraço. E ele vai sendo, no exato momento em que chega "lá", afastado do plano médio sagital do corpo humano pela Estrela da Tarde.

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